terça-feira, 8 de agosto de 2017

E tudo quer o vento levar

Eu sei que este vento tem explicação meteorológica, um anticiclone com mais um ingrediente qualquer. 

É tudo menos esta explicação aquilo em que penso quando os cabelos se me colam aos lábios de batom e o comprimento do lenço preso ao pescoço, para evitar resfriados que o vento gosta de cultivar na minha garganta, se vai enfiar entre as pernas e fico a parecer uma humana com cauda de cor de laranja.

Enquanto trabalho, o vento bate-me à janela como convite, mas depois é tudo menos convidativo quando meto os pés na rua. As persianas piscam os olhos e nunca ouvi um piscar de olhos tão sonoro como este. Parece-me antes que vou ficar sem persianas e depois lá se vai a privacidade de trabalhar junto à janela e poder espreitar os transeuntes sem eles me verem a mim, de pijama e caneca na mão e cabelo desgrenhado.

Este tem sido um verão muito esquisito, com vento e ar frio que se entranha pela frincha da janela e me faz beber chás. Os dedos gelam ainda antes de conseguirem alcançar o ritmo que o teclado pede. Vejo notícias de sol e praia, mas é tudo o que menos me apetece, porque parece outono ou um inverno em fase final.

É tudo. Só me queria queixar do vento.

Vanessa

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