sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Jornalixo VI ou de como não são os espargos que causam cancro

A acreditar em várias notícias por cá, os espargos contêm um composto que promove ou piora o cancro. Por exemplo, diz a RTP que foi Descoberto aminoácido nos espargos que propaga o cancro da mama. Ou, diz o Observador, Propagação de cancro da mama associada a composto presente em espargos. Mais alarmista, o Notícias ao Minuto tem um artigo intitulado: Estes alimentos podem impulsionar a propagação do cancro. Lá fora, a luta contra os espargos foi mais agressiva. O britânico The Times diz no título de um artigo que evitar os espargos pode ajudar a combater o cancro (Laying off asparagus may help beat cancer). O The Guardian diz que a metástase do cancro da mama está ligada aos espargos e outros alimentos, mas o link sugere que o título foi originalmente ainda pior, sugerindo que cortar os espargos da dieta pode prevenir o cancro (Spread of breast cancer linked to compound in asparagus and other foods). Eu digo: deixem os espargos em paz.

Os cientistas e investigadores concordam comigo. Ora veja-se aqui. Tudo não passou de um (muito) mal entendido. No estudo original, publicado na publicação Nature, relaciona-se a asparagina, aminoácido presente em tudo o que contém proteína, portanto literalmente quase tudo o que é comida e não só os coitados dos espargos, com a metástase de cancro, especialmente o da mama. O estudo sugere que quão maior o nível de actividade da asparagina, mais facilmente se espalhou o cancro da mama nos ratos de laboratório usados nesta experiência. Isto nem sequer é uma descoberta e já existe medicação para tipos de cancro como a leucemia que contem um bloqueador de asparagina. Além disso, o estudo original nem sequer refere a palavra "espargos". Mas também, ao preço a que eles estão, já antes disto eram um inimigo público.

Para quem quiser vasculhar esta lixeira cada vez maior:

Vanessa

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